O Guardião da Nascente

 

(Eu e Caique na grande caçada)

O sol queima ainda quando o clã se dirige mais uma vez para o desfiladeiro. Ainda estamos a uma lua de alcançar o majestoso desfiladeiro. É uma garganta colossal de rocha que se estende pela paisagem. Á medida que nos aproximamos uma única entrada faz regurgitar a vida que se esconde do outro lado do desfiladeiro. A tribo está ausente da aldeia faz hoje sete dias. A caça de bisontes e javalis obriga o clã a efetuar estas expedições muitas vezes ao longo do ano. Já estivemos no desfiladeiro à três dias atrás mas quando chegámos as manadas já tinham dispersado. Desta vez um dos batedores do clã identificou vestígios de uma manada que caminha em direção ao desfiladeiro. É o meu segundo ano em expedições de caça. Para o meu amigo Caíque trata-se da sua primeira expedição. Saiu da aldeia para caçar e pernoitar ao relento comigo e com os restantes elementos do clã. Ele e eu saímos para iniciar o sempre longo ritual de passagem a adulto, a caçador e a esposo. Eu Jurandir iniciei este ritual no ano passado.

O Chefe da tribo avisa que vamos parar a caminhada para montar o acampamento e repousar. Amanhã será o grande dia. Se for como no ano passado, é no desfiladeiro que iremos dar o nosso melhor.

O nosso melhor pode ocorrer mesmo quando julgamos que não nos encontramos preparados seja para o que for. O nosso melhor acompanha sempre os nossos sonhos e também nos faz desesperar. O nosso melhor será sempre esta eterna necessidade de desbravar e aperfeiçoar.

O Chefe falou: “Jurandir e Caíque juntem muita lenha para a fogueira. A que não for usada agora servirá para o nosso regresso á aldeia depois da caçada.”

À refeição o fogo de concelho toma lugar. É um concilio á volta da fogueira onde segundo a orientação do Grande Ancião, cantamos, dançamos, fazemos preces aos deuses, invocamos ao divino e ao universo os nomes das mulheres e das crianças do nosso clã que que irão partilhar connosco o bom e o mau das nossas vidas. O Grande Ancião agradece o propósito e o empenho de todos na grande caçada.

Risos, conversa e comunhão á volta da fogueira. O Clã confraterniza, dá-se a conhecer e torna os laços de amizades vitalícios. Tudo em comunhão com a natureza. Caçar é uma necessidade para se poder sobreviver, não capturamos por mero prazer. A primeira coisa a fazer depois de se fazer uma captura é colocar uma mão no dorso ou no cachaço do animal capturado, agradecer-lhe a ele e ao universo por desta forma ser possível a nossa sobrevivência. Agradecer por desta forma ser possível renovar o nosso clã com homens, mulheres e crianças saudáveis e felizes.

A lua já nos vigia à muitas horas e um burburinho junta o grupo de anciãos mais respeitados. Um dos anciãos indaga o céu noturno e afirma que entretanto vai chover. Com chuva existe o perigo dos animais se afastarem do desfiladeiro para irem beber água de um rio que fica longe do desfiladeiro. Os anciãos discutem se vão enviar um ou dois batedores para confirmarem ou a presença ou a fuga dos animais junto do desfiladeiro. Decidem por um apenas pois poderá haver a necessidade de um segundo batedor ter de voltar á aldeia para consultar o feiticeiro caso os animais não se encontrem no desfiladeiro. A consulta a este Mago tem sido um dos pilares da união e do sucesso das grandes caçadas. Dizem que em anos anteriores ele costumava acompanhar a elite de caça mas agora já é uma pessoa idosa que iria atrasar a progressão da caçada apenas pelo seu andar lento.

(Yara)

Deitado na cama Jurandir vê o seu pensamento ser levado para Yara. Caique é o seu melhor amigo mas existe o perigo de ele se mostrar melhor caçador do que Jurandir e dar-se o caso de reclamar Yara como esposa. Para poder reclamar Yara eu Jurandir vou ter de dar o tudo por tudo nesta caçada, neste ritual de passagem. Yara é uma menina bonita de cabelos escuros e olhos vítreos. Em garotos corríamos e brincávamos pelos campos, pastavamos o gado doméstico e sentávamo-nos no chão a observar o que a nossa vista alcançava. E quando diariamente o sol vinha deitar-se no colo do horizonte, a mão de Jurandir procurava a mão pequena e aveludada de Yara. O sorriso dela era doce e era o melhor prémio de todos os finais de dia.

A chuva caiu com a urgência de dar de beber á terra e à vegetação. O batedor chega antes da luz do dia com novidades acerca das manadas selvagens. O acampamento é levantado de imediato mesmo com o sono e o repouso mal restabelecidos. O sol ainda deve estar a repousar no dorso da terra que o acolheu ontem para dormir.

(No desfiledeiro)

Agora próximos do desfiladeiro temos de nos esconder para não sermos vistos pelos animais. Os anciãos levantam os dedos húmidos de saliva para perceber que lado é que o vento sopra. Durante a noite o batedor atou as primeiras cordas que irão suportar as redes de caça. Apenas três anciãos se aproximam furtivamente da garganta do desfiladeiro. O Clã evita assim que o nosso cheiro possa ser facilmente detetado pelos animais. Se assim fosse os animais acabariam por fugir e dispersar.

O Grande ancião sopra o corno e este é o sinal sonoro que dita o início da caçada. Este sinal sonoro é possante. Faz acelerar o sangue nas nossas veias e artérias e dir-se-ia que muda mesmo toda a paisagem em redor. A grande caçada tem agora o seu início. Corremos como loucos gritando com as lanças ou com os arcos de flechas em punho. A manada interrompe o seu descanso ou a sua pastagem para se colocar em fuga. A nossa primeira função é fazer com que corram na direção da garganta do desfiladeiro. Depois várias redes arremessadas por alguns anciãos do alto do desfiladeiro irão cair e arrecadar alguns desses animais em fuga.

Os animais são possantes e a sua fuga faz estremecer o chão. Uma poeira incessante tolda-nos frequentemente a visão tornando a partir de agora esta missão muito mais perigosa e imprevisível.

(A missão de levar a caça de regresso ao acampamento da aldeia)

Depois da captura verifica-se se existe alguém ferido. Se existir fazemos os curativos. Faz-se um círculo á volta de pelo menos um animal capturado. Reservamos alguns minutos para preces e orações de gratidão. “Obrigado grande Bisonte, Obrigado Javali. Nós os caçadores, as mulheres e as crianças do clã agradecemos o bem que nos proporcionam. Estamos gratos a vós, gratos aos Deuses e gratos ao Universo”.

Várias pessoas são encarregues de remover o conteúdo dos intestinos da caça capturada para que a matéria orgânica que lá se encontre não apodreça e contamine a carne. A Caique foi-lhe atribuída esta tarefa. A mim é-me atribuída a tarefa de transportar carne para as mulheres e as crianças da aldeia numa tarimba presa nas minhas costas á altura da minha cintura. A outra extremidade apoiará diretamente no chão.

Esta é uma missão muito importante. Levar carne a quem ficou na aldeia e na retaguarda olhou por nós pedindo benesses aos Deuses. E na retaguarda continuaram a fazer das peles roupagem nova para nosso conforto e proteção dos elementos. Terão pronunciado os nossos nomes á luz do azeite que se consumiu durante as noites de ausência e saudade. A saudade talvez seja a invenção humana mais antiga de todas. A saudade obriga-nos a preencher a ausência física daquilo que mais desejamos com a presença de outras coisas tais como objetos e memórias que possam antecipar o reencontro. A saudade é assim uma técnica de promover o reencontro.

Todos os grandes Anciãos iniciaram a sua valentia com a missão de transportar parte da carne recolhida até à aldeia. É também a grande oportunidade de voltar a ver o rosto de Yara a sorrir e a sentir de novo a sua mão pequena e reconfortante.

Os grandes anciãos reuniram comigo em círculo. Foi a primeira vez. No centro do círculo um dos anciãos risca no chão o trajeto a efetuar até á aldeia com a tarimba carregada de carne. O percurso é longo e traiçoeiro. A qualquer momento posso-me cruzar com um bisonte, um leão, um puma ou uma cobra venenosa. Estima-se que nunca deverei estar afastado mais de 4 quilómetros dos cursos de água pois a carne e especialmente as folhas que farão a sua conservação durante a viagem deverão ser demolhadas no mínimo de oito em oito horas. Não há interesse em arriscar a minha vida para entregar carne que já não se encontra comestível. Isso iria causar diarreia e disenteria na aldeia e não é esse o objetivo.

Acabámos a refeição do meio dia e recebo dos anciães as bênçãos e a ordem de partida. Um abraço especial a Caique e aos restantes e faço-me ao caminho.

Sozinho para além da tarimba repleta de carne levo também a vontade de vencer, muitos medos e muitas dúvidas. Irei chegar á aldeia vivo, não chegarei. Continuarei a ser sempre saudável ou sofrerei com os ataques infligidos por algum animal? Se tudo falhar. Serei esquecido? Serei humilhado? Se não correr bem Yara irá partilhar a sua vida com outro homem, quase de certeza com o meu amigo Caique. Se não correr bem alguma vez me irei perdoar a mim próprio? E se a vergonha se colar à minha pele terei de pensar num modo de por um termo à vida? Simulando até talvez um acidente?

A Dúvida coroe-nos sempre por dentro e se o medo for muito já nos transformámos numa versão inferior de nós mesmos. A versão em que não sendo felizes já não emitimos para o universo gratidão e energias positivas. Coisas que o universo gosta tanto de receber para ampliar e devolver.

Para sentir energias positivas recordo mais frequentemente o rosto e a presença de iara. Também me animam os cânticos que as mulheres do clã costumam entoar e que vou cantarolando quase inaudivelmente para não atrair animais que me possam atacar. Bem basta o barulho que a tarimba faz ao ser arrastada pelo meu esforço.

(A transgressão)

Caem continuamente pingos de suor do rosto nesta dura tarefa de arrastar a tarimba com alimentos que irei entregar ás matriarcas e crianças da aldeia. O suor é tanto que me inunda os olhos impedindo-me de os manter abertos por períodos que julgo serem longos. Mas tenho de estar alerta ao máximo.

Faço a primeira pausa para comer alguns frutos colhidos diretamente das árvores e dos arbustos que ladeiam uma das margens do riacho. É reconfortante o barulho da água. É um som primitivo e milenar. Onde quer que estejamos, nem que fosse a mil quilómetros deste local o marulhar da água entra no nosso espírito e sentimos o apelo da vida, sentimos o apelo da paz. A ideia reconfortante de que a vida vai continuar só porque neste preciso momento existem condições para saciar a nossa sede e seguir em frente assim que decidirmos fazê-lo.

Reparo que a nascente do riacho não pode estar longe pois a vista alcança o sopé da montanha talvez a uns quatro Quilómetros. O riacho nasce no sopé da montanha. O sol está a pôr-se e neste momento sinto a cabeça tonta. Foi demasiado esforço para o primeiro dia de missão, mas percebo agora que bastantes das bagas que colhi de alguns arbustos têm elevado teor alcoólico. Devia de ter ingerido apenas metade do que consumi. Tarde de mais para mudança de planos. Vou ter mesmo de dormir e deixar o corpo recuperar as suas forças da maneira que conseguir.

Acordo na manhã seguinte com o marulhar da água a despertar-me. Vejo gazelas e veados bastante afastados porque a minha presença incomodou a sua aproximação ao riacho para nutrirem as suas sedes. Recordo também na medida do possível os sonhos quase pesadelos que tive durante a noite. E o sonho mais interessante de que me recordo foi o início da amizade com o Guardião da Nascente. O Guardião da Nascente é um mancebo da tribo rival. É um ritual de passagem para a vida adulta. Todos os membros da tribo rival começaram por ser o Guardião da Nascente. A nascente do ribeiro situa-se num território que não pertence ao meu clã. Antes da minha partida para levar alimentos até à aldeia na tarimba o Grande Ancião estabeleceu regras e eventualmente uma das mais importante era a de não cruzar terreno da tribo rival que detém a posse da nascente do riacho. Consta em jeito de lenda que o meu próprio bisavô nunca regressou após uma ida á nascente para estabelecer uns termos de paz com a tribo rival.

A minha visão desenha-me uma paisagem bastante idílica impropria para o homicídio de alguém que se aproxime desta nascente com boas intenções. Por isso vou arriscar. O risco e a adrenalina por vezes são mais fortes. Quero conhecer a nascente deste riacho e eventualmente o seu guardião da tribo rival. Talvez consiga resgatar ou pelo menos igualar a glória de um momento vivido pelo meu bisavô. É arriscado desobedecer ao Grande Ancião, mas pretendo adquirir energia suficiente para chegar á aldeia vivo e com a comida para vários dias intacta. Verbalizo para mim mesmo: “Grande Ancião vais desculpar-me, mas para continuar esta aventura eu vou conhecer a nascente e se possível o seu Guardião”.

(O Guardião da Nascente)

A ida á nascente tem de ser rápida. Não pode causar-me um atraso superior a uma ou duas horas.

Prendo a Tarimba no meio do riacho mesmo antes de uma queda de água com dois metros de altura. Coloco-a em cima de pedras que já aqui se encontravam e coloco outras para fazer altura. O importante é a tarimba ficar em cima da corrente de água. Ainda assim prendo a tarimba a ambas as margens com lianas de árvores que recolhi para o efeito.

Vou então seguir o riacho até à nascente. Trata-se de uma pequena incursão em território inimigo na direção oposta á minha aldeia. Peço aos Deuses que nenhum animal se aproxime e me danifique a tarimba. Caso contrário ficarei mal visto, ainda mais porque a minha curiosidade fez-me desobedecer ao Grande Ancião. Para começar tenho de fazer o reconhecimento de pegadas no sentido inverso. Para além de estudar atentamente o meu percurso de destino estando atento a pegadas e a outros sinais de animais que me possam atacar ou a pessoas hostis. O reconhecimento de pegadas no sentido inverso destina-se exatamente ao mesmo, mas na nossa retaguarda. O perigo pode não estar á nossa frente, mas vir da nossa retaguarda. Será um recuar para confirmar, sentir segurança e poder continuar.

Decido correr ao lado das margens do riacho. Aproximo-me de uma imagem idílica de um pequeno lago em frente ao sopé da montanha de onde brota água das margens e de uma pequena gruta de pedra mais alta do que a margem do lago.

Aproximo-me um pouco mais, mas sempre camuflado. A nascente e a paisagem são deslumbrantes. Distingo no horizonte tingido de azul a silhueta de um homem a cavalo. Será provavelmente o mancebo da tribo rival na missão de Guardião da nascente. Vem da montanha e vai descer até ao vale onde me encontro e o aguarda o lago, a pequena gruta e um fino fio de água a correr que vem da montanha. O ar da noite quase próxima leva-lhe o odor da fogueira e do cântico de homens e mulheres que no acampamento da sua tribo no topo da montanha a três quilómetros de distância celebram o fim do dia. Os cânticos da sua tribo são também um pedido de bonança que possa embalar os Deuses na concessão de boas caçadas e muita saúde. Este guardião desce do cavalo e galga os seixos para se aproximar da nascente. Faz uma pausa para indagar a chegada das primeiras constelações no firmamento. Ele sabe que elas velam por nós. Ele escuta e formula mais uma vez o desejo ardente de que os cânticos do seu povo cheguem às estrelas, tal como chega o trinado de uma águia ágil a quem os Deuses concedem benesses. Com contentamento retoma o caminho da nascente e repara que tudo está em ordem. O local está limpo e dentro da pequena gruta ainda permanecem os pratos com flores e essências almiscaradas, colocadas na ronda anterior e por ele renovadas duas vezes por lua. Esta tarefa representa para o seu clã um agradecimento divino em reciprocidade para com a Natureza que nos dá a água, essência de frescura e de alimento para homens, mulheres, crianças e animais. 

Mas do mato denso algo correu e veio na minha direção. Mordeu-me numa perna e atirou-me ao chão. A minha perna ainda se encontra entre os seus dentes. Estou a ser atacado por um puma adulto. Sinto dores e não consigo defender-me. Felizmente uma rede cai em cima do puma e quase em cima de mim. A rede é apertada e atada em vários sítios para encurralar o animal. E quem faz esse trabalho sozinho é precisamente o Guardião da Nascente. Estou a sangrar, mas tento levantar-me para lhe agradecer. Ele deve ter a minha idade, tem um ar austero e ordena-me que me sente para tratar das feridas. Afasta-se para colher algumas plantas e depois faz-me um curativo com as mesmas. Depois do curativo feito aponta-me a lança e numa linguagem gestual aponta de novo para mim, para o jaguar preso pela rede e para a lua. Depois de algum esforço compreendi a mensagem. Somos membros de tribos rivais. Mas ele vai deixar o jaguar com as patas atadas pelo período de uma lua. Ou seja, vou seguir de novo o meu destino com um avanço de vinte e quatro horas até o Guardião da Nascente desatar as patas do puma. Estarei então de novo nessa altura por minha conta e risco.

Levanto-me do chão. Pretendia abraçar o Guardião em agradecimento, mas ele acena com a cabeça e retira-se. Fiquei em divida para com ele. Agora mesmo a coxear tenho de voltar para junto da tarimba e verificar se esta se encontra no mesmo sítio no riacho. O que hoje acabou bem, podia ter sido a minha morte. Ser ajudado pode ser raro ou mesmo nunca acontecer. É gratificante sentir que alguém estava do nosso lado quando precisámos de amparo. Já que quando precisamos de ajuda é costume estarmos distantes de familiares e dos amigos. Costumamos estar mesmo isolados. Foi o caso.

Duas luas depois chego ao cume do monte no sopé do qual a dois quilómetros de distância se situa a aldeia do nosso clã. Posso descer até lá com a tarimba ou fazer uma fogueira no cume para sinalizar a minha posição. Fiz uma fogueira e sentei-me para descansar os pés inchados e o corpo cansado. Ao final da tarde ouço as vozes da aldeia que chamam por mim. O meu olhar devolve-me a presença de Yara que vem a correr ao meu encontro. Abraçámo-nos longamente como nunca nos tínhamos abraçado. Olhamo-nos nos olhos e o mundo torna-se mais amplo e mais agradável. Enquanto Yara renova o penso na minha perna magoada antes de me arrastar até á aldeia, reparo que algo se aproxima de nós até uns quinze metros de distância. Trata-se do puma que me atacou. Olha por momentos para nós, peço a Yara para não fazer nada. O puma resolve afastar-se pouco depois para procurar o seu caminho. Na verdade, neste mundo, pessoas e animais, todos nós procuramos o nosso caminho. Eu e Yara começamos agora um novo caminho.




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