O moinho

O moinho

Hoje é sábado e está um vento forte. Pedi autorização à avó de Ana Rita para colocar o moinho a funcionar. Ganhei a sua confiança depois de ter reparado algumas partes do moinho que já não funcionavam. Substitui algumas peças de madeira que é o material mais nobre de que é feito o engenho deste moinho. Ficou funcional e a avó de Ana Rita ficou muito feliz por ver o moinho assim recuperado.

Mais uma vez vou reproduzir o modo como se fazia farinha, sei lá há duzentos ou trezentos anos atrás…

Há que encher a moega que é um recipiente em pirâmide invertida com um buraco no fundo. O milho há-de cair e ser moído noite dentro. O ponto central das mós será uma vez mais oleado com azeite. O cata-vento é o capitão. Recebe o vento do exterior e no interior a seta gira indicando do lado de cá do capelo que é o telhado, o destino apressado do vento. 

A minha tarefa predileta neste engenho é o rodar o sarilho. É uma manivela que faz com que o capelo e a vela do moinho rodem solidariamente. Deste modo as velas conseguem acolher o vento na sua nova direção. O fechal que é o primeiro andar do moinho roda igualmente. Depois de captado o vento, o fechal é trancado e só a vela acompanha esta aragem em fuga. Os três roqueiros que são três rodas dentadas encostam no eixo central do moinho e dão tração a três mós. O eixo gira solene e repetitivamente expondo as velas no horizonte. 

Um quadro gratuito oferecido outrora pelo moleiro a todos os transeuntes. A farinha surge assim do que antes fora o grão e anuncia a sua presença batendo na cercadura das mós que tem o nome de cambeirais, caindo finalmente no farinheiro. 

Um dos maiores momentos de felicidade para mim foi quando percebi o funcionamento do moinho. Quando descomplicamos o mistério das coisas sentimos que crescemos sempre mais um pouquinho. Foi de fato neste moinho que me senti crescer feliz. 

O vento dá-me paz e tranquilidade. Dá vida á natureza, coloca, flores relva, mar e céu em movimento. Precisava mesmo de compreender este engenho que o vento faz rodar. 

Para mim uma parte preferida do dia aqui no monte dos moinhos é o por sol. O sol vai-se afastando porque confia no vento na lua e nas estrelas. Confia neles como elementos capazes de dar continuidade à vida. Depois no dia seguinte o sol volta com saudades de aloirar todas as paisagens. É curiosa esta obsessão do sol porque aloira mesmo as paisagens onde não se encontram pessoas. O que procurará ele? Dá que pensar não dá?


2017 © Copyright Vítor Casado
Foto: commons.wikimedia.org



Comentários