A cegonha
O cão de Susana chama-se
Pantufa e hoje ele foi ter com Susana e a mãe à saída da missa. Susana empurra
o carrinho de bebé onde a sua irmã Rute vai chuchando sem se cansar. A mãe de
Susana permite que Susana leve o carrinho de bebé enquanto fica a falar à porta
da igreja com outras senhoras. Pantufa é um cão pequeno branco com grandes
manchas castanhas. É pequeno mas ladra muito inclusive aos cães com o dobro do
seu tamanho. Um dos seus olhos habita numa mancha de pelo branco enquanto o
outro olho habita numa mancha de pelo castanho. O Sino da igreja obediente ao
relógio do campanário acaba de tocar as badaladas certas. Pantufa corre
velozmente para as traseiras da igreja onde se encontra o campanário da igreja
velha. A igreja velha já foi demolida mas a sua torre com os seus dois sinos
permanece nas traseiras da nova igreja.
Pantufa teima em ladrar
com o seu aparente ar zangado a olhar para o cume da torre. Conseguimos
perceber que lá em cima no alto da torre se encontra um ninho com uma cegonha e
um filhote com apenas duas ou três semanas. Pantufa ladrou tanto que a cegonha
bebé se assustou e caiu do ninho.
Pantufa é assim ele faz este
ar de zangado mas nunca se zanga, gosta é de ladrar para que as pessoas
percebam que ele está ali para brincar. Ele não quer assustar as cegonhas, o
ladrar é a maneira que ele tem de lhes perguntar se elas podem ou não brincar.
No carrinho de bebé a
pequena Rute mostra-se feliz sorrindo com a chupeta na boca. Pantufa já a
conhece por ser tão pequenina. Por vezes faz questão de se colocar em pé com as
patitas apoiadas no carrinho de bebé para a ver sorrir enquanto abana a cauda.
Susana resolve retirar do
carrinho de bebé a irmã pequenina apenas por um bocadinho e senta-a no chão que
cobriu com uma pequena fralda de pano. Susana fala assim para a sua irmã bebé:
“Olha Rute, Olha uma
cegonha pequenina e bebé como tu”.
A irmã bebé olha sempre a
sorrir enquanto mantem a sua chupeta ocupada na tarefa de apaziguar a fúria das
gengivas.
João um colega de Susana aproxima-se e de imediato ambos ficam a
cismar sobre a melhor forma de devolver a pequena cegonha à mãe e ao ninho.
João tem uma ideia.
Saca do bolso um recipiente,
desenrosca a tampa soprando-o na haste e de imediato mil bolinhas de sabão
perdem-se pelo ar. João põe-se de cócoras de frente para a cegonha bebé e
confessa a Susana.
“Vou fazer uma bolha de
sabão tão grande que sirva de casa para a cegonha bebé. Depois essa bolha vai
subir no ar como todas as outras. Quando estiver a altura do ninho a mão
cegonha vai rebentar com o bico a bolha e a cegonha bebé vai cai dentro do
ninho”.
Susana escutou João e a
ideia agradou-lhe.
Algumas bolhas rebentam
mesmo antes de começarem a subir. Outras fazem um grande Ploff salpicando os
rostos de João e de Susana . Pantufa
pula e corre tentando morder algumas bolhas de sabão mas fica confuso quando
estas se evaporam mesmo à frente dos seus olhos que habitam duas manchas de
pelo de cores diferentes.
João continua a soprar
muito fazendo umas grandes bochechas avermelhadas na tentativa de fazer bolhas
de sabão gigantes.
Por momentos uma
quantidade de bolhas choca-se, e desloca-se em rebuliços que o vento empurrou.
Uma das bolhas cresce,
desce até ao chão e coloca no seu interior uma vida pequenina. Apressa-se
depois a subir na direção exata do ninho da cegonha.
“Ó não em vez da cegonha
bebé a bolha leva no seu interior a minha irmã bebé”. Grita Susana sem saber como agir…
A bolha de sabão gigante com a pequena irmã de
Susana eleva-se no ar. A cegonha mãe
põe-se de pé dentro do ninho e quando a bolha se encontra pouco acima do ninho
o majestoso bico da cegonha mãe desfaz a bolha. A bebé Rute ainda de chucha na boca
cai no ninho da cegonha e aí se acomoda. A cegonha mãe olha para a bebé com
carinho parecendo querer sorrir-lhe.
No seu entender a missa já
acabou á muito e por isso Susana olha em todas as direções procurando em
desespero a ajuda da mãe. Parecia-lhe que se encontrava próxima mas já não a
consegue localizar. As pessoas saíram da igreja pela porta principal. E estas
crianças como estavam nas traseiras da igreja junto do antigo campanário
passaram despercebidas a todas as pessoas que entraram e saíram da igreja.
“Vamos entrar no interior
do campanário e subir as escadas”. Disse João.
João e Susana sobem a
escada interna do campanário da igreja com a cegonha bebé ao colo. Susana fica
na dúvida do que é mais rápido: O bater dos seus corações aflitos ou os pés
encarregues de subirem todos os degraus do campanário. No fim de subirem todos
os degraus e já bastante transpirados Susana encontra a sua irmã Rute de
chupeta na boca dentro do ninho aconchegada pela cegonha mãe.
A cegonha adulta olha para
eles e coloca-se de pé adivinhando a troca de bebés que irá acontecer.
João devolve a pequena
cegonha à mãe cegonha e Susana recebe a sua irmã bebé nos braços. A cegonha
adulta recebe o seu filhote e aconchega-o debaixo das suas asas.
Susana e João agradecem á
cegonha os breves mas longos instantes em que esta tomou conta da bebé Rute.
Ambos têm agora uma história para contar. Pouco depois João e Susana já têm
Rute aconchegada no carrinho de bebé. Finalmente lá em baixo no adro da igreja.
Libertos de qual pesadelo. A mãe de Susana aproxima-se de ambos a sorrir e sem
se ter apercebido de nada diz:
“Muito bonitas as minhas
duas filhas com o amigo João”. Comprei pipocas para vocês.
João e Susana recebem as
pipocas que comem prazerosamente. João olha para Susana e pergunta-lhe?
“Será que as cegonhas gostam
de pipocas? Poderia fazer mais bolhas de sabão para fazer chegar as pipocas até
ao ninho da cegonha”.
Em vez de uma resposta
ouve-se a mãe das meninas a chamar:
“João e Susana venham, vamos regressar a casa com
a Rute e o Pantufa.”
João e Susana olharam de
novo para o ninho da cegonha no alto do campanário e repararam que as cegonhas
olhavam para eles felizes. Com o Pantufa a ladrar ficaram por um pedaço ambos a
pensar…
2017 © Copyright Vítor Casado
Foto: Stork, www.pixabay.com
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