Estrada fora
Já pintei paisagens com as rodas pincelando
O trilho que me separa da tua aldeia.
De manhã uma neblina leve substitui
A tinta na trincha.
No centro da paisagem uma nora evoca na água
O percurso da escova passeando-se
Pelos teus cabelos.
Vou pedalando e circulando pelas ruas.
Abelhas cheiram as flores e as formigas
Repetem visitas.
Apetece-me devolver-te todas estas cores, sons e odores.
Mas é frustrante elas já serem tuas.
Por isso pincelo e vou a pedalar.
Já cruzei o vale que une os teus seios.
Podia imaginar uma ave no céu e dar-lhe recados meus.
Vou aguardar antes pela noite e imaginar o flanco
Do teu corpo distendido ao lado desta aldeia.
Um a um vou guardar todos os sinais da primavera
E devolver-tos depois.
Assim que os meus lábios provem dos teus.
Assim que o meu corpo naufrague no teu.
in Poiesis, IV – Editorial Minerva, 2000, p. 216.
2000 © Copyright Vítor Casado
Foto: pixabay.com
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