Ballerina

Ballerina

Já colecionei gestos no firmamento,
E sonho surripiar sombras
Que enfrentem a luz e a penumbra.

Mas elas evadem-se quão efémeras
Tal como o findar de um parto,
a neutralização da dor
ou a desaceleração do amor.

O teu corpo cai esmorece e recupera.
Corre e rodopia. Eleva o teu porte fino e leve.
Sinto-me despojado de mim
E do peso dos dias.

Mariposa porque não te posso encurralar
Fechando as mãos por um ínfimo instante
Para depois te libertar?

Os meus dedos incapazes entrecruzam-se
Mas os teus tecem histórias nessa linguagem
Onde recolhes a herança milenar dos gestos.





in Poiesis, X I– Editorial Minerva, 2004, p. 173.
2004 © Copyright Vítor Casado
Foto: Bailarinas - Aguarela de Vítor Casado



Comentários